segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Artigo RD News 05/12/2011


Vazio na política cuiabana – parte I



Uma das questões mais debatidas sobre a política cuiabana nos últimos tempos é o vácuo de lideranças. Nas eleições de 2008 para a Câmara Municipal o percentual de renovação foi de 42,1% e, em 2010, nenhum vereador foi eleito deputado estadual. Isto contrariou uma tendência observada em muitas eleições, na qual pelo menos o presidente da Câmara Municipal ganhava a eleição para a Assembleia Legislativa. Ademais, houve também as inéditas cassações de mandatos de alguns parlamentares.

Mas quais seriam as reais causas desta situação? O fortalecimento dos municípios do interior, tanto no plano econômico quanto no político? A chamada “descuiabanização” da política mato-grossense, que tem reduzido o peso de Cuiabá na dinâmica estadual? A dificuldade de Cuiabá em produzir bons quadros? O estilo de liderança de alguns dirigentes partidários, que atrapalharia o surgimento de candidatos com potencial?

Uma fonte importante de respostas sempre será a história política recente de Cuiabá. Uma das máximas mais consagradas da política reafirma seu caráter coletivo,  bem traduzido na seguinte frase: “política se faz em grupo”. Bem, o maior líder da política municipal é o prefeito. Portanto, para compreendermos melhor a situação atual devemos olhar para o Palácio Alencastro.

Desde o restabelecimento das eleições diretas em 1985, tivemos apenas 4 prefeitos eleitos, quais sejam: Dante de Oliveira, Frederico Campos, Roberto França e Wilson Santos. Destes, três foram eleitos duas vezes, o que já demonstra um baixo grau de competitividade política. A única exceção foi Frederico Campos, numa eleição atípica em 1988, quando as forças que apoiavam o então Governador Carlos Bezerra se dividiram em três candidaturas. Roberto França, José Meirelles e Serys tiveram 61,4% dos votos válidos e Frederico Campos foi eleito com 38,6%, porque ainda não vigorava o mecanismo do 2º turno.

Portanto, é possível dizer que o grupo do ex-Governador Dante de Oliveira esteve presente na Prefeitura durante quase todo este período, de forma direta (Dante e Wilson) ou em coligação com o grupo de Roberto França, uma vez que ambos estavam no PSDB e França recebeu o apoio de Dante nas duas eleições.

Um fato interessante a ser observado é a presença de três vices no exercício da Prefeitura neste intervalo de tempo, que assumiram em função de afastamento ou renúncia dos titulares. Estevão Torquato (Dante I), José Meirelles (Dante II) e Francisco Galindo (Wilson II) exercerão, somados, cerca de seis anos e meio, ou seja, quase dois mandatos.

Isto nos leva a observar um segundo aspecto importante. Já que “política se faz em grupo”, onde estão os ex-prefeitos de Cuiabá e seus respectivos grupos? Em todos os municípios e, sobretudo nas capitais, os ex-prefeitos não apenas participam do processo, como exercem funções de liderança junto a seus respectivos grupos políticos.

Basta olhar para o exemplo de Rondonópolis, em que vários ex-prefeitos são cogitados como candidatos em 2012. Carlos Bezerra, Rogério Salles, Percival Muniz e Adilton Sacheti  chefiam grupos importantes no município e são lembrados.

No caso de Cuiabá, isto não vem acontecendo, porque três dos ex-prefeitos são vices que assumiram e não formaram grupos significativos. Os demais não tiveram vida política expressiva após os mandatos, com exceção de Dante de Oliveira. Dante escapou a esta “maldição” porque não cumpriu os mandatos na íntegra, para exercer as funções de Ministro e Governador do Estado. Já Roberto França, Frederico Campos e Wilson Santos tiveram resultados eleitorais bem inferiores ao seu capital político quando foram eleitos para a Prefeitura.

Mas porque isto acontece? Isto já é assunto para a próxima semana.



   

Vinicius de Carvalho Araújo

Gestor Governamental do Estado de Mato Grosso

Mestre em História

Professor universitário

























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