segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Artigo RD News 19/12/2011


Vazio na política cuiabana – parte III



Continuo a série sobre o vazio da política em Cuiabá. Semana passada, apontei que o populismo do sistema político cuiabano tem sido um dos principais responsáveis pelo desgaste das suas principais lideranças, em particular os prefeitos.

Um dos traços mais marcantes do populismo é o personalismo. Quer dizer, o líder tende a manter uma relação direta com a população, independente de organizações mediadoras, como os partidos políticos. No caso de Cuiabá, isto fica bem notório quando são analisados os resultados eleitorais para a Câmara Municipal desde 1996.

Neste ano, o partido mais bem votado foi o PDT do então Governador Dante de Oliveira, com 17,82%. Na eleição seguinte (2000), reeleição de Roberto França, o PDT caiu para 1,47% dos votos e o PSDB assumiu a dianteira, com 18,69%. Em 2004, o PSDB perdeu a 1ª colocação para o PPS, que vinha de inexpressivos 0,74% em 1996, mas era o partido de Roberto França, Sérgio Ricardo e do então Governador Blairo Maggi. Por fim, em 2008, o PSDB reassumiu a dianteira com a reeleição de Wilson Santos, reunindo 12,57% dos votos, contra 2,17% do PPS, campeão da eleição anterior. Os partidos com eleitorado mais estável no período foram PMDB e PT.

No entanto, durante as décadas de 1980 e 1990, estas disputas ficavam “impunes”, porque não prejudicavam a posição de Cuiabá e seu entorno no cenário político estadual, uma vez que este era muito “cuiabanizado”. Os três principais grupos políticos estaduais tinham suas principais lideranças domiciliadas na região e articulavam os respectivos aliados no interior.

O primeiro grupo, com origem no Movimento Democrático Brasileiro (MDB), era liderado por Dante de Oliveira, Carlos Bezerra e Márcio Lacerda. O segundo grupo, egresso da Aliança Renovadora Nacional I (Arena I), era encabeçado por Osvaldo Sobrinho, Roberto França, Joaquim Sucena, Rodrigues Palma e Louremberg Nunes Rocha.  Por último, o terceiro grupo, surgido da Arena II, era chefiado por Júlio/ Jaime Campos e Jonas Pinheiro.

Estes grupos alternavam-se na Prefeitura de Cuiabá e no Governo do Estado, com a Arena I servindo de “fiel da balança” nas contendas estaduais. A dinâmica era a seguinte: um grupo ganhava a Prefeitura de Cuiabá como oposição ao outro que exercia o Governo do Estado.  Na eleição seguinte para Governador, o grupo que ganhou a Prefeitura estava fortalecido e ganhava também o Governo do Estado. Na próxima eleição municipal, o grupo que perdeu o Governo do Estado tornava-se oposicionista na capital e ganhava a eleição para a Prefeitura, reiniciando o ciclo.

Esta “sistemática da alternância” funcionou bem durante cerca de 25 anos. As eleições de 1998 e 2002 operaram a transição para um novo modelo, no qual as forças políticas do interior ganharam força e autonomia diante da capital do Estado e entorno.

Hoje, em razão deste e de outros fatores, Cuiabá perdeu o comando político de Mato Grosso. Vejamos os presidentes dos diretórios estaduais dos principais partidos para confirmar esta hipótese. Carlos Bezerra (PMDB), Percival Muniz (PPS) e Wellington Fagundes (PR) têm sua base política em Rondonópolis. Da região norte vêm Nilson Leitão (PSDB) e Dilceu Dal Bosco (Dem) de Sinop, José Riva (PSD) de Juara e até há pouco Ságuas Moraes (PT), de Juína. Completam o quadro Zeca Viana (PDT) de Primavera do Leste e Pedro Henry (PP) de Cáceres. Sobram apenas o PSB com Valtenir Pereira e o PTB com Chico Galindo, baseados em Cuiabá.

Este quadro tem afetado a conjuntura política na capital? Continuo na próxima semana.  





Vinicius de Carvalho Araújo

Gestor Governamental do Estado de Mato Grosso

Mestre em História

Professor universitário







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