Vazio na
política cuiabana – parte III
Continuo
a série sobre o vazio da política em Cuiabá. Semana passada, apontei que o
populismo do sistema político cuiabano tem sido um dos principais responsáveis
pelo desgaste das suas principais lideranças, em particular os prefeitos.
Um
dos traços mais marcantes do populismo é o personalismo. Quer dizer, o líder
tende a manter uma relação direta com a população, independente de organizações
mediadoras, como os partidos políticos. No caso de Cuiabá, isto fica bem
notório quando são analisados os resultados eleitorais para a Câmara Municipal
desde 1996.
Neste
ano, o partido mais bem votado foi o PDT do então Governador Dante de Oliveira,
com 17,82%. Na eleição seguinte (2000), reeleição de Roberto França, o PDT caiu
para 1,47% dos votos e o PSDB assumiu a dianteira, com 18,69%. Em 2004, o PSDB
perdeu a 1ª colocação para o PPS, que vinha de inexpressivos 0,74% em 1996, mas
era o partido de Roberto França, Sérgio Ricardo e do então Governador Blairo
Maggi. Por fim, em 2008, o PSDB reassumiu a dianteira com a reeleição de Wilson
Santos, reunindo 12,57% dos votos, contra 2,17% do PPS, campeão da eleição
anterior. Os partidos com eleitorado mais estável no período foram PMDB e PT.
No
entanto, durante as décadas de 1980 e 1990, estas disputas ficavam “impunes”,
porque não prejudicavam a posição de Cuiabá e seu entorno no cenário político
estadual, uma vez que este era muito “cuiabanizado”. Os três principais grupos
políticos estaduais tinham suas principais lideranças domiciliadas na região e
articulavam os respectivos aliados no interior.
O
primeiro grupo, com origem no Movimento Democrático Brasileiro (MDB), era
liderado por Dante de Oliveira, Carlos Bezerra e Márcio Lacerda. O segundo
grupo, egresso da Aliança Renovadora Nacional I (Arena I), era encabeçado por
Osvaldo Sobrinho, Roberto França, Joaquim Sucena, Rodrigues Palma e Louremberg
Nunes Rocha. Por último, o terceiro
grupo, surgido da Arena II, era chefiado por Júlio/ Jaime Campos e Jonas
Pinheiro.
Estes
grupos alternavam-se na Prefeitura de Cuiabá e no Governo do Estado, com a Arena
I servindo de “fiel da balança” nas contendas estaduais. A dinâmica era a
seguinte: um grupo ganhava a Prefeitura de Cuiabá como oposição ao outro que exercia
o Governo do Estado. Na eleição seguinte
para Governador, o grupo que ganhou a Prefeitura estava fortalecido e ganhava
também o Governo do Estado. Na próxima eleição municipal, o grupo que perdeu o
Governo do Estado tornava-se oposicionista na capital e ganhava a eleição para
a Prefeitura, reiniciando o ciclo.
Esta
“sistemática da alternância” funcionou bem durante cerca de 25 anos. As
eleições de 1998 e 2002 operaram a transição para um novo modelo, no qual as
forças políticas do interior ganharam força e autonomia diante da capital do
Estado e entorno.
Hoje,
em razão deste e de outros fatores, Cuiabá perdeu o comando político de Mato
Grosso. Vejamos os presidentes dos diretórios estaduais dos principais partidos
para confirmar esta hipótese. Carlos Bezerra (PMDB), Percival Muniz (PPS) e
Wellington Fagundes (PR) têm sua base política em Rondonópolis. Da região norte
vêm Nilson Leitão (PSDB) e Dilceu Dal Bosco (Dem) de Sinop, José Riva (PSD) de
Juara e até há pouco Ságuas Moraes (PT), de Juína. Completam o quadro Zeca
Viana (PDT) de Primavera do Leste e Pedro Henry (PP) de Cáceres. Sobram apenas o
PSB com Valtenir Pereira e o PTB com Chico Galindo, baseados em Cuiabá.
Este
quadro tem afetado a conjuntura política na capital? Continuo na próxima
semana.
Vinicius de
Carvalho Araújo
Gestor
Governamental do Estado de Mato Grosso
Mestre em
História
Professor
universitário
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