Vazio na
política cuiabana – parte II
No artigo da semana passada busquei
identificar as razões para o vazio na política cuiabana atual. A principal
hipótese levantada foi a dificuldade dos ex-prefeitos de Cuiabá para formarem
grupos políticos fortes sob sua liderança e ganharem eleições majoritárias ou
mesmo para deputado federal na sequência de seus mandatos.
As razões para isto estão na forma como
foi organizado o campo político em Cuiabá dentre as décadas de 1970 e 1990,
período no qual se deu a formação das atuais elites políticas do município.
Dentre os principais vetores deste campo estão:
1 - a predominância do grupo originado
no MDB/PMDB nas eleições para a Prefeitura, com mudança nas alianças;
2 - a oposição ao Governo do Estado;
3 – a forte dependência do setor público
e o baixo envolvimento da sociedade civil no processo político;
4 – a cuiabanização da política
matogrossense, quando esta era quase uma transposição das disputas das elites da
Grande Cuiabá, acrescidas dos seus respectivos aliados no interior;
5 – O populismo, com a presença de
alguns de seus traços marcantes como o personalismo e a despartidarização.
Quero me concentrar hoje no populismo,
entendido aqui como a adoção de determinadas práticas demagógicas. Dentre elas estão
a estratégia de obter poder político apelando aos sentimentos do público,
usando temas regionalistas, populistas ou religiosos, além de fazer declarações
que não podem ser postas em prática.
A Cuiabá deste período apresentou-se
como um território fértil para o discurso populista, uma vez que teve um
crescimento demográfico acelerado e desordenado, que forneceu as bases para as
lideranças carismáticas que surgiram à época. Tais bases eram compostas por migrantes
de outros Estados e do interior de Mato Grosso, em busca de maior participação
política, num contexto de redemocratização.
Portanto, a hipótese em relação ao
populismo é que ele assumiu uma feição autodestrutiva para as lideranças
políticas em Cuiabá. O mesmo mecanismo que formava os líderes e pautava a sua
carreira política no Legislativo, acabou por vitimá-los quando no exercício do
Poder Executivo. Quer dizer, os líderes articulavam um discurso com traços populistas
e faziam carreira no Legislativo municipal, estadual e federal, sempre como
campeões de voto. Ao chegarem à Prefeitura, reforçavam a fama desta de “túmulo
político” e saíam menores do que entraram, do ponto de vista eleitoral.
Assim aconteceu com Roberto França e
Wilson Santos, com o primeiro alinhando-se com um populismo mais conservador e
o segundo com tendências mais à esquerda, como o apoio aos movimentos sociais e
às invasões de bairros. Ambos, uma vez na condição de prefeitos, tiveram dificuldades
de tomar algumas decisões que confrontavam a cultura política e as bases que os
elegeram. Cito como exemplo a regularização fundiária, o cumprimento de algumas
leis mais rigorosas e o incremento da arrecadação de impostos, tarifas públicas
e multas.
Portanto, Cuiabá tornou-se no período
uma cidade com muitos problemas e poucos recursos, favorecendo as lideranças
com perfil para o Legislativo. A Prefeitura, ao invés de ser um passo
importante na carreira política como em outras capitais, acabou convertendo-se
num ponto terminal. Este quadro tem um caráter nocivo em dobro, pois de um lado
ele dificulta a formação de lideranças de Cuiabá para a política estadual,
contribuindo para a chamada “descuiabanização” da política matogrossense. De
outro, perpetua este quadro sem forma e inorgânico, proporcionando o surgimento
de novos líderes com o mesmo perfil ou então “neófitos” vindo de fora do meio
político, como empresários e agentes da mídia.
Na próxima semana examinarei outros
aspectos que contribuem para a situação política de Cuiabá.
Vinicius de
Carvalho Araújo
Gestor
Governamental do Estado de Mato Grosso
Mestre em
História
Professor
universitário
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