segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Artigo RD News 12/12/2011


Vazio na política cuiabana – parte II





No artigo da semana passada busquei identificar as razões para o vazio na política cuiabana atual. A principal hipótese levantada foi a dificuldade dos ex-prefeitos de Cuiabá para formarem grupos políticos fortes sob sua liderança e ganharem eleições majoritárias ou mesmo para deputado federal na sequência de seus mandatos. 

As razões para isto estão na forma como foi organizado o campo político em Cuiabá dentre as décadas de 1970 e 1990, período no qual se deu a formação das atuais elites políticas do município. Dentre os principais vetores deste campo estão:



1 - a predominância do grupo originado no MDB/PMDB nas eleições para a Prefeitura, com mudança nas alianças;

2 - a oposição ao Governo do Estado;

3 – a forte dependência do setor público e o baixo envolvimento da sociedade civil no processo político;

4 – a cuiabanização da política matogrossense, quando esta era quase uma transposição das disputas das elites da Grande Cuiabá, acrescidas dos seus respectivos aliados no interior;

5 – O populismo, com a presença de alguns de seus traços marcantes como o personalismo e a despartidarização. 



Quero me concentrar hoje no populismo, entendido aqui como a adoção de determinadas práticas demagógicas. Dentre elas estão a estratégia de obter poder político apelando aos sentimentos do público, usando temas regionalistas, populistas ou religiosos, além de fazer declarações que não podem ser postas em prática.

A Cuiabá deste período apresentou-se como um território fértil para o discurso populista, uma vez que teve um crescimento demográfico acelerado e desordenado, que forneceu as bases para as lideranças carismáticas que surgiram à época. Tais bases eram compostas por migrantes de outros Estados e do interior de Mato Grosso, em busca de maior participação política, num contexto de redemocratização.

Portanto, a hipótese em relação ao populismo é que ele assumiu uma feição autodestrutiva para as lideranças políticas em Cuiabá. O mesmo mecanismo que formava os líderes e pautava a sua carreira política no Legislativo, acabou por vitimá-los quando no exercício do Poder Executivo. Quer dizer, os líderes articulavam um discurso com traços populistas e faziam carreira no Legislativo municipal, estadual e federal, sempre como campeões de voto. Ao chegarem à Prefeitura, reforçavam a fama desta de “túmulo político” e saíam menores do que entraram, do ponto de vista eleitoral.

Assim aconteceu com Roberto França e Wilson Santos, com o primeiro alinhando-se com um populismo mais conservador e o segundo com tendências mais à esquerda, como o apoio aos movimentos sociais e às invasões de bairros. Ambos, uma vez na condição de prefeitos, tiveram dificuldades de tomar algumas decisões que confrontavam a cultura política e as bases que os elegeram. Cito como exemplo a regularização fundiária, o cumprimento de algumas leis mais rigorosas e o incremento da arrecadação de impostos, tarifas públicas e multas.

Portanto, Cuiabá tornou-se no período uma cidade com muitos problemas e poucos recursos, favorecendo as lideranças com perfil para o Legislativo. A Prefeitura, ao invés de ser um passo importante na carreira política como em outras capitais, acabou convertendo-se num ponto terminal. Este quadro tem um caráter nocivo em dobro, pois de um lado ele dificulta a formação de lideranças de Cuiabá para a política estadual, contribuindo para a chamada “descuiabanização” da política matogrossense. De outro, perpetua este quadro sem forma e inorgânico, proporcionando o surgimento de novos líderes com o mesmo perfil ou então “neófitos” vindo de fora do meio político, como empresários e agentes da mídia.    

Na próxima semana examinarei outros aspectos que contribuem para a situação política de Cuiabá.



Vinicius de Carvalho Araújo

Gestor Governamental do Estado de Mato Grosso

Mestre em História

Professor universitário





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