Vazio na
política cuiabana – parte IV
Continuo
a série de artigos sobre o vazio da política em Cuiabá. Hoje quero me
concentrar na dimensão socioeconômica e sua contribuição para este quadro.
Mato
Grosso foi uma das unidades da federação que mais mudou no Brasil desde 1979,
quando ocorreu a última divisão territorial. Em termos demográficos, foi o
Estado que mais cresceu entre os censos de 1980 e 2010, saindo de cerca de
1,138 milhões de habitantes para pouco mais de 3 milhões atuais (aumento de
166,5%). Os únicos que superaram Mato Grosso neste item foram Roraima, Amapá e
Rondônia. Além de partirem de uma base populacional menor, todos eles eram
territórios federais em 1980, sendo convertidos em Estados ao longo daquela
década.
Quando
são observados os dados relativos ao Produto Interno Bruto (PIB), Mato Grosso
mais uma vez se destacou. Foi o Estado que apresentou maior crescimento, com
quase 500% em termos reais de 1980 a 2008. Vale salientar também a mudança no
perfil da economia estadual, que ainda apresentava forte peso de atividades
extrativistas no começo do período, como extração de madeira e garimpo, e agora
avança no sentido da agroindustrialização e da integração na economia
internacional.
Quando
são analisados os dados de Cuiabá, também é possível observar grandes
variações. A população saiu de 212.984 em 1980 para 556.298 em 2010, de acordo
com o IBGE. É um crescimento de 161%,
próximo daquele apresentado pelo Estado no mesmo período. No caso de Várzea
Grande, a evolução fica ainda mais acentuada. O município vizinho saltou de
cerca de 75.000 habitantes em 1980 para em torno de 260.000 em 2010, numa
variação de 235%. Este fenômeno acompanha uma tendência anterior, do
crescimento de Cuiabá acontecer “via” Várzea Grande.
Os
dados da participação do PIB de Cuiabá no estadual também demonstram uma
oscilação significativa. Esta relação saiu de 35,79% em 1996 para 17% em 2008.
Ainda que possam ser feitas observações sobre os aspectos qualitativos do PIB,
é notório que Cuiabá apresenta uma certa estagnação econômica em face do
crescimento mais acelerado do interior. Entre 1996 e 2008, o PIB de Cuiabá
variou cerca de 27%, enquanto que o estadual saltou 167%, o de Várzea Grande 188%, o de Rondonópolis
240% e o de Sinop 445% no mesmo intervalo.
Portanto,
fica claro que está acontecendo uma descentralização econômica no Estado, com o
crescimento sendo puxado pelo interior. Em função disto, a dinâmica
socioeconômica da região metropolitana foi alterada, com mudanças
significativas em áreas como segurança pública, emprego e renda, turismo,
trânsito, infraestrutura, políticas sociais, ambientais, transporte coletivo, desenvolvimento
urbano, etc.
Tais
transformações trouxeram desafios para as políticas públicas nos três níveis da
federação, de modo a lidar melhor com as novas demandas apresentadas. No
entanto, tenho a impressão muitas vezes que a realidade sócio-econômica
matogrossense mudou de forma tão acelerada que boa parte das suas elites
políticas, acadêmicas e burocráticas não percebeu. Foram muitas mudanças num
intervalo de tempo equivalente a uma geração (25/30 anos) e com boa parte do
acréscimo populacional sendo gerado por migrantes de várias regiões do país. Em
suma, somos um Estado ainda em formação.
Para
concluir, Cuiabá precisa recuperar a capacidade para enfrentar o triplo desafio
que se apresenta. Liderar políticas públicas para o próprio município, para a
região metropolitana e também para o conjunto interior do Estado. Estas três
camadas de problemas têm se somado e chegado na arena política, contribuindo
para a fraqueza cada vez maior de Cuiabá em nível estadual. Retomo o assunto na
próxima semana.
Vinicius de
Carvalho Araújo
Gestor
Governamental do Estado de Mato Grosso
Mestre em
História
Professor
universitário
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