quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Um caminho para Cuiabá


Um caminho para Cuiabá



Numa série de artigos publicada aqui no RD News, intitulada “Vazio na política cuiabana” busquei analisar as razões econômicas para a atual situação da capital de Mato Grosso. Ao observar o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado e alguns de seus principais municípios, pude identificar que Cuiabá está evoluindo num ritmo muito inferior à média.

Após um período em que o PIB municipal cresceu acima do estadual, nas décadas de 1970 e 1980, Cuiabá desacelerou e reduziu sua participação em Mato Grosso de 35,79% em 1996 para 17% em 2008.

O crescimento aconteceu num momento em que havia projeto estratégico para o município, elaborado e implantado pelo regime militar. Sem problematizar aqui o conteúdo de tal projeto, vale dizer que ele reservava para Cuiabá a função de grande centro logístico, comercial, financeiro e de serviços não apenas de Mato Grosso, mas de toda a Amazônia Ocidental. Além disto, havia também a produção fabril a ser concentrada no maior distrito industrial do Estado.

Este projeto, entretanto, está esgotado. Para acompanhar o crescimento do Estado, é preciso que Cuiabá defina um novo rumo estratégico, centrado nas mesmas funções de outrora, só que num patamar tecnológico e de qualidade bem mais elevado.

Vale lembrar que Mato Grosso apresenta altos índices de produtividade na pecuária e em várias culturas agrícolas, como algodão e soja. Isto acontece porque as unidades de produção adotam tecnologia de vanguarda em nível global, gerando vantagens competitivas que compensam os custos com a logística e crédito, por exemplo.

Uma hipótese é que, com a globalização cada vez mais acentuada, os consumidores de MT estejam comprando bens e serviços em outras regiões do país ou mesmo importando do exterior.

De outro lado, o interior continua enviando usuários de serviços públicos para a capital, sem a devida engenharia financeira e de políticas públicas que possa absorvê-los com a eficácia esperada. Esta inequação, cujo resultado é negativo, está na raiz de boa parte dos problemas atuais enfrentados por Cuiabá.

Houve algumas tentativas recentes de formulação de planos estratégicos para a capital, como o “Pró-Cuiabá 300 anos”. Entretanto, eles não tiveram a devida repercussão e influência na orientação das políticas públicas dos três níveis da federação no município.

Uma referência nesta matéria é o recém lançado Plano Estratégico da Prefeitura do Rio de Janeiro, intitulado “Pós 2016: Rio mais integrado e competitivo”, disponível no site http://www0.rio.rj.gov.br/planoestrategico.

Cuiabá e Rio de Janeiro têm muitas semelhanças e vínculos históricos, pela condição de capitais, forte presença da igreja, exército e o envio de estudantes universitários. Num período mais próximo, ambas sediarão megaeventos, como a Copa 2014 e as Olimpíadas de 2016. 

O referido documento traz oito objetivos centrais do Governo, detalhados em 10 áreas de resultado e 37 iniciativas estratégicas. O que me chamou a atenção foi o destaque dado na área de emprego e renda para iniciativas como ambiente de negócios, indústria criativa, moda e design, audiovisual e turismo. Há também iniciativas na área de ordem pública, esporte, lazer, cultura, gestão e finanças públicas.

São caminhos que Cuiabá deve buscar para harmonizar suas relações e retomar o desenvolvimento apresentado outrora. É preciso um novo pacote de investimentos para que ela torne-se referência nas áreas que já lhe são reservadas, como saúde, educação, administração pública, bancos, indústria de alimentos, comércio e serviços de forma geral.

Estes são apenas alguns dos desafios que Cuiabá terá que enfrentar em breve, caso queira manter seu papel de destaque no cenário regional.   



Vinicius de Carvalho Araújo é gestor governamental do Estado, mestre em História Política, professor universitário escreve neste blog toda segunda-feira - vcaraujo@terra.com.br www.professorviniciusaraujo.blogspot.com

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