quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Caminhos para Cuiabá III - IPTU


Caminhos para Cuiabá III - IPTU



A chegada dos carnês de IPTU aos imóveis cuiabanos vem despertando as mais diversas reações na sociedade. Várias vozes se manifestaram na imprensa quanto aos valores elevados e à pouca prestação de serviços pela Prefeitura Municipal.

Uma das principais razões da gritaria é a resistência existente no Brasil quanto à tributação da propriedade. Dados da própria Receita Federal do Brasil demonstram que os impostos sobre a propriedade representam apenas 3,37% do total da carga tributária no Brasil, contra 19,28% sobre a renda, 22,56% sobre salários, 46,9% sobre o consumo e 4,88% sobre transações financeiras.

Esta composição permite que tenhamos uma carga tributária regressiva, ou seja, mais alta para os contribuintes de menor renda. Conforme pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), as famílias com renda de até dois salários mínimos pagam 53,9% dela com tributos, enquanto que aqueles com renda superior a 30 salários mínimos comprometem apenas 29% com a mesma finalidade.   

Com base nos dados disponíveis na página do Ipea e Secretaria do Tesouro Nacional (STN),  é possível observar uma certa estagnação quando se analisa a receita de IPTU em Cuiabá nos últimos 16 anos, com valores corrigidos pela inflação (IGP-DI).

Basta dizer que a receita de 2010 (R$ 26,5 milhões) foi quase igual à de 1996 (R$ 25,78 milhões) e inferior à de 1997 (R$ 28 milhões). Durante a gestão de Roberto França a receita caiu do valor de 1997 para cerca de R$ 15 milhões em 2003 (queda de 46,11%).

Durante o mandato de Wilson Santos/Chico Galindo houve recuperação da receita, com melhora consecutiva nos anos de 2005, 2006 e 2007, pequeno decréscimo em 2008 (eleição municipal) e retomada nos anos de 2009, 2010 e 2011. Neste último ano a arrecadação teria sido de R$ 44,3 milhões e projeta-se R$ 60 milhões em 2012, conforme dados extraoficiais da própria Prefeitura Municipal de Cuiabá.

Quando estes dados são comparados com outros municípios, como Campo Grande, fica ainda mais clara a distorção. Embora a população daquela capital seja apenas cerca de 40% superior à Cuiabá, a receita de IPTU foi mais de seis vezes maior. O IPTU por habitante aqui ficou em R$ 48,75 em 2010, ao passo que lá atingiu a marca de R$ 214,69.

Vale lembrar que isto tudo está acontecendo num momento de explosão imobiliária em Cuiabá, com o lançamento de imóveis comerciais, condomínios verticais, horizontais, shoppings, etc. Além disto, o preço dos imóveis teve sensível elevação nos últimos anos, acompanhando tendência nacional, em função do aumento da oferta de crédito. Quer dizer, subiram tanto o estoque de imóveis quanto o valor venal destes, que devem ser multiplicados para gerar a receita de IPTU.

Portanto, no momento da realização da receita os contribuintes devem exigir que todos paguem aquilo que é devido. No momento seguinte, no qual o recurso arrecadado será aplicado nas mais diversas áreas de políticas públicas, os contribuintes devem exercer todos os mecanismos oferecidos à cidadania para controle social.

Esta observância deve incidir não apenas sobre os recursos próprios da Prefeitura, mas também sobre as transferências do Estado e da União. No caso de Cuiabá, elas totalizaram cerca de 77% do orçamento em 2010.

Por fim, vale dizer que se Cuiabá quiser atingir um patamar diferente do atual na prestação de serviços públicos municipais, precisará levantar os recursos necessários e zelar pela eficiência e legalidade na sua gestão.

Desta forma, será dado mais um importante passo para superar os atuais problemas enfrentados pela cidade.    



Vinicius de Carvalho Araújo é gestor governamental do Estado, mestre em História Política, professor universitário escreve neste blog toda segunda-feira - vcaraujo@terra.com.br www.professorviniciusaraujo.blogspot.com


Nenhum comentário:

Postar um comentário