segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Artigo RD News 05/12/2011


Vazio na política cuiabana – parte I



Uma das questões mais debatidas sobre a política cuiabana nos últimos tempos é o vácuo de lideranças. Nas eleições de 2008 para a Câmara Municipal o percentual de renovação foi de 42,1% e, em 2010, nenhum vereador foi eleito deputado estadual. Isto contrariou uma tendência observada em muitas eleições, na qual pelo menos o presidente da Câmara Municipal ganhava a eleição para a Assembleia Legislativa. Ademais, houve também as inéditas cassações de mandatos de alguns parlamentares.

Mas quais seriam as reais causas desta situação? O fortalecimento dos municípios do interior, tanto no plano econômico quanto no político? A chamada “descuiabanização” da política mato-grossense, que tem reduzido o peso de Cuiabá na dinâmica estadual? A dificuldade de Cuiabá em produzir bons quadros? O estilo de liderança de alguns dirigentes partidários, que atrapalharia o surgimento de candidatos com potencial?

Uma fonte importante de respostas sempre será a história política recente de Cuiabá. Uma das máximas mais consagradas da política reafirma seu caráter coletivo,  bem traduzido na seguinte frase: “política se faz em grupo”. Bem, o maior líder da política municipal é o prefeito. Portanto, para compreendermos melhor a situação atual devemos olhar para o Palácio Alencastro.

Desde o restabelecimento das eleições diretas em 1985, tivemos apenas 4 prefeitos eleitos, quais sejam: Dante de Oliveira, Frederico Campos, Roberto França e Wilson Santos. Destes, três foram eleitos duas vezes, o que já demonstra um baixo grau de competitividade política. A única exceção foi Frederico Campos, numa eleição atípica em 1988, quando as forças que apoiavam o então Governador Carlos Bezerra se dividiram em três candidaturas. Roberto França, José Meirelles e Serys tiveram 61,4% dos votos válidos e Frederico Campos foi eleito com 38,6%, porque ainda não vigorava o mecanismo do 2º turno.

Portanto, é possível dizer que o grupo do ex-Governador Dante de Oliveira esteve presente na Prefeitura durante quase todo este período, de forma direta (Dante e Wilson) ou em coligação com o grupo de Roberto França, uma vez que ambos estavam no PSDB e França recebeu o apoio de Dante nas duas eleições.

Um fato interessante a ser observado é a presença de três vices no exercício da Prefeitura neste intervalo de tempo, que assumiram em função de afastamento ou renúncia dos titulares. Estevão Torquato (Dante I), José Meirelles (Dante II) e Francisco Galindo (Wilson II) exercerão, somados, cerca de seis anos e meio, ou seja, quase dois mandatos.

Isto nos leva a observar um segundo aspecto importante. Já que “política se faz em grupo”, onde estão os ex-prefeitos de Cuiabá e seus respectivos grupos? Em todos os municípios e, sobretudo nas capitais, os ex-prefeitos não apenas participam do processo, como exercem funções de liderança junto a seus respectivos grupos políticos.

Basta olhar para o exemplo de Rondonópolis, em que vários ex-prefeitos são cogitados como candidatos em 2012. Carlos Bezerra, Rogério Salles, Percival Muniz e Adilton Sacheti  chefiam grupos importantes no município e são lembrados.

No caso de Cuiabá, isto não vem acontecendo, porque três dos ex-prefeitos são vices que assumiram e não formaram grupos significativos. Os demais não tiveram vida política expressiva após os mandatos, com exceção de Dante de Oliveira. Dante escapou a esta “maldição” porque não cumpriu os mandatos na íntegra, para exercer as funções de Ministro e Governador do Estado. Já Roberto França, Frederico Campos e Wilson Santos tiveram resultados eleitorais bem inferiores ao seu capital político quando foram eleitos para a Prefeitura.

Mas porque isto acontece? Isto já é assunto para a próxima semana.



   

Vinicius de Carvalho Araújo

Gestor Governamental do Estado de Mato Grosso

Mestre em História

Professor universitário

























Artigo RD News 12/12/2011


Vazio na política cuiabana – parte II





No artigo da semana passada busquei identificar as razões para o vazio na política cuiabana atual. A principal hipótese levantada foi a dificuldade dos ex-prefeitos de Cuiabá para formarem grupos políticos fortes sob sua liderança e ganharem eleições majoritárias ou mesmo para deputado federal na sequência de seus mandatos. 

As razões para isto estão na forma como foi organizado o campo político em Cuiabá dentre as décadas de 1970 e 1990, período no qual se deu a formação das atuais elites políticas do município. Dentre os principais vetores deste campo estão:



1 - a predominância do grupo originado no MDB/PMDB nas eleições para a Prefeitura, com mudança nas alianças;

2 - a oposição ao Governo do Estado;

3 – a forte dependência do setor público e o baixo envolvimento da sociedade civil no processo político;

4 – a cuiabanização da política matogrossense, quando esta era quase uma transposição das disputas das elites da Grande Cuiabá, acrescidas dos seus respectivos aliados no interior;

5 – O populismo, com a presença de alguns de seus traços marcantes como o personalismo e a despartidarização. 



Quero me concentrar hoje no populismo, entendido aqui como a adoção de determinadas práticas demagógicas. Dentre elas estão a estratégia de obter poder político apelando aos sentimentos do público, usando temas regionalistas, populistas ou religiosos, além de fazer declarações que não podem ser postas em prática.

A Cuiabá deste período apresentou-se como um território fértil para o discurso populista, uma vez que teve um crescimento demográfico acelerado e desordenado, que forneceu as bases para as lideranças carismáticas que surgiram à época. Tais bases eram compostas por migrantes de outros Estados e do interior de Mato Grosso, em busca de maior participação política, num contexto de redemocratização.

Portanto, a hipótese em relação ao populismo é que ele assumiu uma feição autodestrutiva para as lideranças políticas em Cuiabá. O mesmo mecanismo que formava os líderes e pautava a sua carreira política no Legislativo, acabou por vitimá-los quando no exercício do Poder Executivo. Quer dizer, os líderes articulavam um discurso com traços populistas e faziam carreira no Legislativo municipal, estadual e federal, sempre como campeões de voto. Ao chegarem à Prefeitura, reforçavam a fama desta de “túmulo político” e saíam menores do que entraram, do ponto de vista eleitoral.

Assim aconteceu com Roberto França e Wilson Santos, com o primeiro alinhando-se com um populismo mais conservador e o segundo com tendências mais à esquerda, como o apoio aos movimentos sociais e às invasões de bairros. Ambos, uma vez na condição de prefeitos, tiveram dificuldades de tomar algumas decisões que confrontavam a cultura política e as bases que os elegeram. Cito como exemplo a regularização fundiária, o cumprimento de algumas leis mais rigorosas e o incremento da arrecadação de impostos, tarifas públicas e multas.

Portanto, Cuiabá tornou-se no período uma cidade com muitos problemas e poucos recursos, favorecendo as lideranças com perfil para o Legislativo. A Prefeitura, ao invés de ser um passo importante na carreira política como em outras capitais, acabou convertendo-se num ponto terminal. Este quadro tem um caráter nocivo em dobro, pois de um lado ele dificulta a formação de lideranças de Cuiabá para a política estadual, contribuindo para a chamada “descuiabanização” da política matogrossense. De outro, perpetua este quadro sem forma e inorgânico, proporcionando o surgimento de novos líderes com o mesmo perfil ou então “neófitos” vindo de fora do meio político, como empresários e agentes da mídia.    

Na próxima semana examinarei outros aspectos que contribuem para a situação política de Cuiabá.



Vinicius de Carvalho Araújo

Gestor Governamental do Estado de Mato Grosso

Mestre em História

Professor universitário





Artigo RD News 19/12/2011


Vazio na política cuiabana – parte III



Continuo a série sobre o vazio da política em Cuiabá. Semana passada, apontei que o populismo do sistema político cuiabano tem sido um dos principais responsáveis pelo desgaste das suas principais lideranças, em particular os prefeitos.

Um dos traços mais marcantes do populismo é o personalismo. Quer dizer, o líder tende a manter uma relação direta com a população, independente de organizações mediadoras, como os partidos políticos. No caso de Cuiabá, isto fica bem notório quando são analisados os resultados eleitorais para a Câmara Municipal desde 1996.

Neste ano, o partido mais bem votado foi o PDT do então Governador Dante de Oliveira, com 17,82%. Na eleição seguinte (2000), reeleição de Roberto França, o PDT caiu para 1,47% dos votos e o PSDB assumiu a dianteira, com 18,69%. Em 2004, o PSDB perdeu a 1ª colocação para o PPS, que vinha de inexpressivos 0,74% em 1996, mas era o partido de Roberto França, Sérgio Ricardo e do então Governador Blairo Maggi. Por fim, em 2008, o PSDB reassumiu a dianteira com a reeleição de Wilson Santos, reunindo 12,57% dos votos, contra 2,17% do PPS, campeão da eleição anterior. Os partidos com eleitorado mais estável no período foram PMDB e PT.

No entanto, durante as décadas de 1980 e 1990, estas disputas ficavam “impunes”, porque não prejudicavam a posição de Cuiabá e seu entorno no cenário político estadual, uma vez que este era muito “cuiabanizado”. Os três principais grupos políticos estaduais tinham suas principais lideranças domiciliadas na região e articulavam os respectivos aliados no interior.

O primeiro grupo, com origem no Movimento Democrático Brasileiro (MDB), era liderado por Dante de Oliveira, Carlos Bezerra e Márcio Lacerda. O segundo grupo, egresso da Aliança Renovadora Nacional I (Arena I), era encabeçado por Osvaldo Sobrinho, Roberto França, Joaquim Sucena, Rodrigues Palma e Louremberg Nunes Rocha.  Por último, o terceiro grupo, surgido da Arena II, era chefiado por Júlio/ Jaime Campos e Jonas Pinheiro.

Estes grupos alternavam-se na Prefeitura de Cuiabá e no Governo do Estado, com a Arena I servindo de “fiel da balança” nas contendas estaduais. A dinâmica era a seguinte: um grupo ganhava a Prefeitura de Cuiabá como oposição ao outro que exercia o Governo do Estado.  Na eleição seguinte para Governador, o grupo que ganhou a Prefeitura estava fortalecido e ganhava também o Governo do Estado. Na próxima eleição municipal, o grupo que perdeu o Governo do Estado tornava-se oposicionista na capital e ganhava a eleição para a Prefeitura, reiniciando o ciclo.

Esta “sistemática da alternância” funcionou bem durante cerca de 25 anos. As eleições de 1998 e 2002 operaram a transição para um novo modelo, no qual as forças políticas do interior ganharam força e autonomia diante da capital do Estado e entorno.

Hoje, em razão deste e de outros fatores, Cuiabá perdeu o comando político de Mato Grosso. Vejamos os presidentes dos diretórios estaduais dos principais partidos para confirmar esta hipótese. Carlos Bezerra (PMDB), Percival Muniz (PPS) e Wellington Fagundes (PR) têm sua base política em Rondonópolis. Da região norte vêm Nilson Leitão (PSDB) e Dilceu Dal Bosco (Dem) de Sinop, José Riva (PSD) de Juara e até há pouco Ságuas Moraes (PT), de Juína. Completam o quadro Zeca Viana (PDT) de Primavera do Leste e Pedro Henry (PP) de Cáceres. Sobram apenas o PSB com Valtenir Pereira e o PTB com Chico Galindo, baseados em Cuiabá.

Este quadro tem afetado a conjuntura política na capital? Continuo na próxima semana.  





Vinicius de Carvalho Araújo

Gestor Governamental do Estado de Mato Grosso

Mestre em História

Professor universitário







Artigo RD News 26/12/2011


Vazio na política cuiabana – parte IV



Continuo a série de artigos sobre o vazio da política em Cuiabá. Hoje quero me concentrar na dimensão socioeconômica e sua contribuição para este quadro.

Mato Grosso foi uma das unidades da federação que mais mudou no Brasil desde 1979, quando ocorreu a última divisão territorial. Em termos demográficos, foi o Estado que mais cresceu entre os censos de 1980 e 2010, saindo de cerca de 1,138 milhões de habitantes para pouco mais de 3 milhões atuais (aumento de 166,5%). Os únicos que superaram Mato Grosso neste item foram Roraima, Amapá e Rondônia. Além de partirem de uma base populacional menor, todos eles eram territórios federais em 1980, sendo convertidos em Estados ao longo daquela década.

Quando são observados os dados relativos ao Produto Interno Bruto (PIB), Mato Grosso mais uma vez se destacou. Foi o Estado que apresentou maior crescimento, com quase 500% em termos reais de 1980 a 2008. Vale salientar também a mudança no perfil da economia estadual, que ainda apresentava forte peso de atividades extrativistas no começo do período, como extração de madeira e garimpo, e agora avança no sentido da agroindustrialização e da integração na economia internacional.

Quando são analisados os dados de Cuiabá, também é possível observar grandes variações. A população saiu de 212.984 em 1980 para 556.298 em 2010, de acordo com o IBGE.  É um crescimento de 161%, próximo daquele apresentado pelo Estado no mesmo período. No caso de Várzea Grande, a evolução fica ainda mais acentuada. O município vizinho saltou de cerca de 75.000 habitantes em 1980 para em torno de 260.000 em 2010, numa variação de 235%. Este fenômeno acompanha uma tendência anterior, do crescimento de Cuiabá acontecer “via” Várzea Grande.  

Os dados da participação do PIB de Cuiabá no estadual também demonstram uma oscilação significativa. Esta relação saiu de 35,79% em 1996 para 17% em 2008. Ainda que possam ser feitas observações sobre os aspectos qualitativos do PIB, é notório que Cuiabá apresenta uma certa estagnação econômica em face do crescimento mais acelerado do interior. Entre 1996 e 2008, o PIB de Cuiabá variou cerca de 27%, enquanto que o estadual saltou 167%,  o de Várzea Grande 188%, o de Rondonópolis 240% e o de Sinop 445% no mesmo intervalo.

Portanto, fica claro que está acontecendo uma descentralização econômica no Estado, com o crescimento sendo puxado pelo interior. Em função disto, a dinâmica socioeconômica da região metropolitana foi alterada, com mudanças significativas em áreas como segurança pública, emprego e renda, turismo, trânsito, infraestrutura, políticas sociais, ambientais, transporte coletivo, desenvolvimento urbano, etc.

Tais transformações trouxeram desafios para as políticas públicas nos três níveis da federação, de modo a lidar melhor com as novas demandas apresentadas. No entanto, tenho a impressão muitas vezes que a realidade sócio-econômica matogrossense mudou de forma tão acelerada que boa parte das suas elites políticas, acadêmicas e burocráticas não percebeu. Foram muitas mudanças num intervalo de tempo equivalente a uma geração (25/30 anos) e com boa parte do acréscimo populacional sendo gerado por migrantes de várias regiões do país. Em suma, somos um Estado ainda em formação.

Para concluir, Cuiabá precisa recuperar a capacidade para enfrentar o triplo desafio que se apresenta. Liderar políticas públicas para o próprio município, para a região metropolitana e também para o conjunto interior do Estado. Estas três camadas de problemas têm se somado e chegado na arena política, contribuindo para a fraqueza cada vez maior de Cuiabá em nível estadual. Retomo o assunto na próxima semana.





Vinicius de Carvalho Araújo

Gestor Governamental do Estado de Mato Grosso

Mestre em História

Professor universitário









Artigo RD News 02/01/2012


Vazio na política cuiabana – parte V



Finalizo hoje a série de artigos sobre o vazio da política em Cuiabá. Hoje quero me concentrar em mais alguns aspectos do seu sistema político, em particular na questão eleitoral.

Há muitos comentários sobre o distanciamento das pessoas comuns com a política, como se todos os acontecimentos que se dão neste espaço pertencessem a outra realidade paralela e não na nossa sociedade. O caso da Câmara Municipal de Cuiabá é um exemplo notório deste fenômeno.  

Bem, isto pode ser explicado por uma série de fatores. Um deles é sistema eleitoral adotado no Brasil, com combinação entre lista aberta e votação proporcional. Nele, o eleitor pode votar em algum candidato oferecido pelos partidos ou na legenda. Os votos são somados por coligação e o número de vagas para cada uma é definido pela quantidade de votos alcançados dividido pelo chamado quociente eleitoral. Depois, os mais bem votados em cada coligação ficam com as vagas.

Na última eleição para vereador em Cuiabá, os 19 candidatos eleitos como titulares tiveram juntos 76.646 votos. Isto equivaleu a cerca de 26% dos votos válidos daquela eleição. Quando se compara com o total do eleitorado, é possível verificar que apenas cerca de 20% dos eleitores domiciliados em Cuiabá votaram nos vereadores titulares.

Isto acaba agravando a baixa representatividade do Poder Legislativo no município, uma vez que a maioria absoluta dos eleitores não votou nos vereadores eleitos. A Câmara, portanto, passa a representar uma minoria e perder o contato com o eleitorado.

Contribui para este quadro de esvaziamento do Poder Legislativo uma outra mazela de nosso sistema político, que é a alta rotatividade entre titulares e suplentes. De acordo com informações da página da Câmara Municipal de Cuiabá, 31 vereadores tiveram assento naquele corpo legislativo ao longo da atual legislatura.

Ou seja, outros 12 vereadores suplentes exerceram o mandato no lugar dos titulares pelas mais variadas razões, como as inéditas cassações de mandatos, licença para ocupação de cargo no Poder Executivo ou outros tipos de licença, para propiciar o conhecido rodízio. Isto equivale a cerca de 63% das vagas da Câmara trocadas num período de três anos de mandato. Desta forma, o eleitor fica com dificuldade para se identificar e estabelecer elos com os atuais vereadores.

Outro fator que tem contribuído para a baixa representação de Cuiabá na Assembleia Legislativa de Mato Grosso é a chamada “dispersão de votos”. Nas capitais, cidades mais populosas e regiões metropolitanas, o eleitor tende a votar em candidatos de outros municípios, reduzindo a concentração de votos nos candidatos locais e, portanto, a eleição destes últimos. Quer dizer, enquanto em alguns municípios a votação é proporcional, com pulverização dos votos, em outros ela é quase “majoritária”, com grande concentração em poucos candidatos.

Em Mato Grosso isto ficou bem nítido na eleição de 2010.  No caso de Cuiabá, os 5 candidatos a deputado estadual mais bem votados reuniram 32,15% dos votos válidos, enquanto que em Rondonópolis este indicador foi de 62,52%, 84,36% em Sinop, 84,8% em Tangará da Serra, 87,04% em Sorriso, 88,58% em Juína e incríveis 92,99% em Alta Floresta.

Portanto, a região de Cuiabá e seu entorno, que reúne cerca de 30% do eleitorado do Estado, elegeu apenas 6 deputados, gerando um déficit de representação em nível estadual e contribuindo para o atual cenário de esvaziamento político na capital.

É correta a afirmação feita no meio político de que Cuiabá é “terra de ninguém”? Pretendo continuar abordando o assunto neste espaço em outras oportunidades. Feliz 2012 a todos.

 





Vinicius de Carvalho Araújo

Gestor Governamental do Estado de Mato Grosso

Mestre em História

Professor universitário







Artigo RD News 09/01/2012


Um CNJ para a gestão pública



A imprensa vem noticiando os embates no Poder Judiciário provocados pela ação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Uma das polêmicas recentes foi sobre o horário de atendimento dos tribunais, que muitas vezes cobrem apenas parte do dia.  Outra foi a atuação da ministra do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e Corregedora do CNJ Eliana Calmom contra alguns magistrados. Calmon se tornou um ícone da luta contra a corrupção e pela transparência naquele que é considerado por muitos analistas como “o mais fechado dos três poderes”.

O CNJ foi instituído, junto com o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), pela Emenda Constitucional 45/04, que tratou da reforma do Poder Judiciário. Ele veio dar vazão ao tão cobrado controle sobre aquele poder no plano administrativo. Na sua composição estão membros do próprio Judiciário, do Ministério Público, dos advogados e também cidadãos comuns indicados pelas duas casas do Congresso Nacional, de modo a trazer visões da sociedade e combater o temido corporativismo.

Desde então o CNJ vem desenvolvendo diversas campanhas como mutirão carcerário, conciliação, cadastro nacional de condenados por crime de improbidade administrativa, justiça aberta, dentre outros.  Na área administrativa, vale salientar a resolução 49, que obriga os órgãos do Judiciário a criarem Núcleos de Estatística e Gestão Estratégica em suas estruturas organizacionais, de modo a sistematizar e divulgar informações administrativas e processuais.

Houve também a resolução 70, que institui o planejamento estratégico do Judiciário, elaborado pela metodologia do Balanced Scorecard (BSC) e composto de 15 objetivos em várias áreas. Os mesmos órgãos do Judiciário ficaram obrigados por esta resolução a formularem seus respectivos planos, com objetivos, metas e indicadores alinhados ao do CNJ.

As mudanças introduzidas pelo CNJ têm sido sentidas em todos os níveis do Poder Judiciário, impactando inclusive no perfil dos concursos públicos para a magistratura e também para as carreiras administrativas e judiciais.

Inspirada na experiência do CNJ, foi apresentada na Câmara Federal pelo deputado Vital do Rêgo Filho (PMDB-PB) a Proposta de Emenda Constitucional 28/07, que cria estrutura similar para os Tribunais de Contas. Está pronta para ir ao plenário desde 2009, aguardando apenas sua inclusão na chamada “ordem do dia”, com vários requerimentos neste sentido. 

No caso do Poder Executivo, a reforma do Estado ou modernização da gestão pública tem tido comportamento cíclico, ora com fases mais intensas, ora com períodos mais calmos. Em geral ela é lembrada ou em momentos de crise, como um instrumento de ajuste fiscal, ou por governos liderados por partidos que trazem este compromisso programático em suas agendas.

Houve avanços importantes em nível federal e também alguns Estados, mas o teor e o ritmo das reformas é muito heterogêneo e, de forma geral, vem caminhando a passos lentos nos últimos anos.

Foi criada pelo decreto federal 7.478 a Câmara de Políticas de Gestão, Desempenho e Competitividade, do Conselho de Governo.  Seu objetivo é formular políticas e medidas específicas destinadas à racionalização do uso dos recursos públicos, ao controle e aperfeiçoamento da gestão pública, bem como de coordenar e articular sua implementação.

Agora pergunto. Por que não transformar tal Câmara num Conselho ao estilo do CNJ, com composição mais ampliada, participação intensa da sociedade civil e envolvendo Estados e municípios? Com certeza seria um dispositivo de aceleração das mudanças na gestão pública em âmbito federativo, além de sua melhor coordenação e harmonização.

Fica lançada aqui a idéia. É uma forma de criar uma “agenda positiva” no lugar dos escândalos que povoam os meios de comunicação todos os dias.   





Vinicius de Carvalho Araújo

Gestor Governamental do Estado de Mato Grosso

Mestre em História

Professor universitário



Artigo RDNews (www.rdnews.com.br) 15/01/2012


Aproximação Dilma-Alckmin

No último dia 12 a Presidente Dilma Roussef esteve em São Paulo num evento para lançamento de um convênio celebrado entre a União e aquele Estado. O objeto é a construção de mais de 100.000 casas populares para famílias de baixa renda, com R$ 8 bilhões transferidos.

Este foi mais um capítulo na boa relação mantida entre ela e o Governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Setores dos partidos de ambos estão incomodados com tal convivência. Temem fortalecimento dos respectivos adversários na política local já nas eleições municipais deste ano.

Neste caso, os interesses que os movem podem ser os seguintes. Dilma e sua equipe já perceberam que as eleições de 2010 tiveram resultado apertado, com vitória de Serra em 11 Estados no 2º turno e margens pequenas fora da região nordeste e do Amazonas. Vários movimentos de Dilma ao longo do ano passado demonstram que ela está se preparando para avançar sobre as bases do adversário, ao prever uma eleição em 2014 mais disputada ainda do que foi em 2010, por conta da situação econômica. 

No caso de São Paulo, há um agravante. Desde 1989, o PT só ganhou lá em 2002 e mesmo assim por uma margem considerada pequena. Além disto, o Estado tem sido a base dos candidatos a Presidente pelo PSDB. A boa votação obtida por eles nas eleições presidenciais acaba sendo repetida em pleitos subsequentes para Governador e Prefeito da capital. Assim foi com Mário Covas em 1990 e 1994, Serra em 2004 e 2006 e Alckmin em 2010.

As vantagens da aproximação para Dilma são claras. Ela precisa aumentar a presença federal no maior colégio eleitoral do país, caso queira melhorar seu desempenho nas urnas. A única forma de fazê-lo é em parceria com o Governo do Estado e os municípios, uma vez que a estrutura da União em SP é a menor do país em termos proporcionais.

Há um servidor federal ativo para cerca de mil habitantes em SP, enquanto a média nacional é de em torno de 390 habitantes para cada servidor. SP tem mais servidores estaduais ativos do que a União, o que fundamenta a velha frase de o Estado é “um país dentro do Brasil”.

No campo político, Dilma ainda contribui para desorganizar um pouco mais a disputa interna no PSDB, já que Alckmin é apontado como 3º colocado na corrida presidencial para 2014, atrás de José Serra e Aécio Neves. Arrefece ainda a oposição da bancada federal de SP, cujo líder natural é o Governador. 

Com esta relação Alckmin pode ocupar o espaço de uma oposição mais moderada e mais afinada com alguns partidos da base aliada, hoje território quase exclusivo de Aécio Neves. Também isola Serra e confunde ainda mais a oposição. 

Alckmin como candidato a Presidente em 2014 talvez seja mais previsível para o PT do que Aécio Neves, pela memória de 2006 e o perfil semelhante ao de Dilma. Além disto, retira-o da sucessão em São Paulo, na qual será favorito, abrindo espaço para o PT contra os possíveis candidatos do PSDB (Serra, Aloisio Nunes Ferreira) e PSD (Afif, Kassab). 

Para Alckmin, a principal vantagem é obter mais recursos para seus programas e ganhar peso político, tanto em nível estadual quanto nacional. Seu desafio é capitalizar mais as marcas do Governo paulista nestes recursos, de modo a obter maiores ganhos políticos do que Dilma.

É um jogo de alto risco para ambos? Com certeza sim. Entretanto, como diz o ditado: “o prêmio é do tamanho do risco”. 



  

Vinicius de Carvalho Araújo

Gestor Governamental do Estado de Mato Grosso

Mestre em História

Professor universitário





domingo, 15 de janeiro de 2012

Saudações aos internautas

Saudações a todos os internautas!!!! Inauguro este espaço, no qual espero dividir com todos minhas reflexões sobre política em todos os níveis, gestão pública e empresarial, cinema, história e outros temas. Sejam bem vindos!!!