Vazio na
política cuiabana – parte I
Uma das questões mais debatidas sobre a
política cuiabana nos últimos tempos é o vácuo de lideranças. Nas eleições de
2008 para a Câmara Municipal o percentual de renovação foi de 42,1% e, em 2010,
nenhum vereador foi eleito deputado estadual. Isto contrariou uma tendência observada
em muitas eleições, na qual pelo menos o presidente da Câmara Municipal ganhava
a eleição para a Assembleia Legislativa. Ademais, houve também as inéditas
cassações de mandatos de alguns parlamentares.
Mas quais seriam as reais causas desta
situação? O fortalecimento dos municípios do interior, tanto no plano econômico
quanto no político? A chamada “descuiabanização” da política mato-grossense,
que tem reduzido o peso de Cuiabá na dinâmica estadual? A dificuldade de Cuiabá
em produzir bons quadros? O estilo de liderança de alguns dirigentes
partidários, que atrapalharia o surgimento de candidatos com potencial?
Uma fonte importante de respostas sempre
será a história política recente de Cuiabá. Uma das máximas mais consagradas da
política reafirma seu caráter coletivo, bem
traduzido na seguinte frase: “política se faz em grupo”. Bem, o maior líder da
política municipal é o prefeito. Portanto, para compreendermos melhor a
situação atual devemos olhar para o Palácio Alencastro.
Desde o restabelecimento das eleições
diretas em 1985, tivemos apenas 4 prefeitos eleitos, quais sejam: Dante de
Oliveira, Frederico Campos, Roberto França e Wilson Santos. Destes, três foram
eleitos duas vezes, o que já demonstra um baixo grau de competitividade
política. A única exceção foi Frederico Campos, numa eleição atípica em 1988,
quando as forças que apoiavam o então Governador Carlos Bezerra se dividiram em
três candidaturas. Roberto França, José Meirelles e Serys tiveram 61,4% dos
votos válidos e Frederico Campos foi eleito com 38,6%, porque ainda não
vigorava o mecanismo do 2º turno.
Portanto, é possível dizer que o grupo
do ex-Governador Dante de Oliveira esteve presente na Prefeitura durante quase
todo este período, de forma direta (Dante e Wilson) ou em coligação com o grupo
de Roberto França, uma vez que ambos estavam no PSDB e França recebeu o apoio
de Dante nas duas eleições.
Um fato interessante a ser observado é a
presença de três vices no exercício da Prefeitura neste intervalo de tempo, que
assumiram em função de afastamento ou renúncia dos titulares. Estevão Torquato
(Dante I), José Meirelles (Dante II) e Francisco Galindo (Wilson II) exercerão,
somados, cerca de seis anos e meio, ou seja, quase dois mandatos.
Isto nos leva a observar um segundo
aspecto importante. Já que “política se faz em grupo”, onde estão os
ex-prefeitos de Cuiabá e seus respectivos grupos? Em todos os municípios e,
sobretudo nas capitais, os ex-prefeitos não apenas participam do processo, como
exercem funções de liderança junto a seus respectivos grupos políticos.
Basta olhar para o exemplo de
Rondonópolis, em que vários ex-prefeitos são cogitados como candidatos em 2012.
Carlos Bezerra, Rogério Salles, Percival Muniz e Adilton Sacheti chefiam grupos importantes no município e são
lembrados.
No caso de Cuiabá, isto não vem
acontecendo, porque três dos ex-prefeitos são vices que assumiram e não
formaram grupos significativos. Os demais não tiveram vida política expressiva
após os mandatos, com exceção de Dante de Oliveira. Dante escapou a esta “maldição”
porque não cumpriu os mandatos na íntegra, para exercer as funções de Ministro
e Governador do Estado. Já Roberto França, Frederico Campos e Wilson Santos tiveram
resultados eleitorais bem inferiores ao seu capital político quando foram
eleitos para a Prefeitura.
Mas porque isto acontece? Isto já é assunto
para a próxima semana.
Vinicius de
Carvalho Araújo
Gestor
Governamental do Estado de Mato Grosso
Mestre em
História
Professor
universitário