segunda-feira, 2 de abril de 2012

Uma leitura da realidade


Uma leitura da realidade



Um fato interessante da semana que passou foi a comemoração do centenário da Biblioteca Estadual Estevão de Mendonça. Outro acontecimento importante foi a divulgação da pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, realizada pelo Instituto Pró-livro.

Os resultados apresentados pela pesquisa nos levam à reflexão sobre a leitura hoje no Brasil e sua relação com outras áreas de políticas públicas, com destaque para a educação, emprego e renda. Embora os dados tenham sido coletados em 2007, eles são reveladores de nossas deficiências e caminhos a seguir para a sua superação.

A amostra alcançou 92% da população, que corresponde ao universo daqueles cidadãos em condições de leitura (acima de 5 anos). Um dos primeiros dados que me chamou a atenção foi o número de pessoas que conhecem alguém bem sucedido em função da leitura, com apenas 35%. Isto ajuda a compreender o baixo valor social atribuído à leitura no Brasil, já que ela não é associação a crescimento profissional.

Outro dado interessante tentou identificar o publico leitor no Brasil, classificando nesta categoria quem leu pelo menos um livro nos últimos três meses. Eles representam pouco mais da metade da população (55%) sendo que, deste grupo, 50% são estudantes. Estes, como se sabem, precisam realizar a leitura de livros didáticos e paradidáticos para atingir seu desempenho acadêmico. Do grupo dos não-estudantes, a proporção de leitores vai aumentando conforme avança a escolarização, chegando a 55% entre os que têm curso superior. Este seria, portanto, um indicador da chamada “leitura espontânea”.

Algo interessante também foi o crescimento das novas mídias na mudança dos hábitos de leitura. A internet e o áudio-livro estão entre aqueles que consomem mais tempo dos seus leitores. Quanto maior a idade do leitor, maior a tendência de buscar lugares silenciosos para leitura, ao passo que os mais jovens leem mais ouvindo música e assistindo televisão. Quando trata-se do tempo médio dedicado à leitura de livros, os leitores com formação superior de novo se destacam, com 2,4 horas semanais.

Quanto ao acesso aos livros, a pesquisa identificou que quanto maior a renda, maior a compra de livros e menor o empréstimo e a leitura de livros distribuídos pelo setor público, por meio de escolas e bibliotecas. A desigualdade socioeconômica marcante no Brasil também manifesta-se neste campo, com 1% da população detendo cerca de 19% dos livros. Quer dizer, um em cada cinco livros estão nas mãos de um em cada cem cidadãos.

Aqui é possível observar a importância das bibliotecas públicas. 73% da população não frequenta bibliotecas, sendo que a maioria dos frequentadores são aqueles em idade escolar.

A pesquisa observou ainda que o consumo de livros é 1,2 por cidadão na faixa etária correspondente, novamente subindo nas camadas mais escolarizadas e de maior renda. Dentre aqueles com menos tempo de educação formal, prevalece a leitura de livros religiosos.

Uma das conclusões mais óbvias desta pesquisa é que educação e leitura andam juntas. Quanto mais avançarem as políticas educacionais em todos os níveis, os reflexos na leitura serão imediatos.

Para o grupo dos não-estudantes outras ações podem ser desenvolvidas, como ampliação do número de bibliotecas públicas e comunitárias, bem como sua conversão em “midiatecas”, ou seja, em centros multimídia de acesso ao conhecimento.  Temos que pensar também no barateamento dos livros, que ainda chegam ao consumidor final com preços elevados em função de uma estrutura de mercado concentrada, tanto na produção quanto na comercialização.

Desta forma, será possível avançar neste importante campo da sociedade contemporânea.



 Vinicius de Carvalho Araújo é gestor governamental do Estado, mestre em História Política, professor universitário escreve neste blog toda segunda-feira - vcaraujo@terra.com.br www.professorviniciusaraujo.blogspot.com




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