Uma
leitura da realidade
Um fato interessante da
semana que passou foi a comemoração do centenário da Biblioteca Estadual
Estevão de Mendonça. Outro acontecimento importante foi a divulgação da
pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, realizada pelo Instituto Pró-livro.
Os resultados apresentados
pela pesquisa nos levam à reflexão sobre a leitura hoje no Brasil e sua relação
com outras áreas de políticas públicas, com destaque para a educação, emprego e
renda. Embora os dados tenham sido coletados em 2007, eles são reveladores de
nossas deficiências e caminhos a seguir para a sua superação.
A amostra alcançou 92% da
população, que corresponde ao universo daqueles cidadãos em condições de
leitura (acima de 5 anos). Um dos primeiros dados que me chamou a atenção foi o
número de pessoas que conhecem alguém bem sucedido em função da leitura, com
apenas 35%. Isto ajuda a compreender o baixo valor social atribuído à leitura
no Brasil, já que ela não é associação a crescimento profissional.
Outro dado interessante
tentou identificar o publico leitor no Brasil, classificando nesta categoria
quem leu pelo menos um livro nos últimos três meses. Eles representam pouco
mais da metade da população (55%) sendo que, deste grupo, 50% são estudantes.
Estes, como se sabem, precisam realizar a leitura de livros didáticos e
paradidáticos para atingir seu desempenho acadêmico. Do grupo dos
não-estudantes, a proporção de leitores vai aumentando conforme avança a
escolarização, chegando a 55% entre os que têm curso superior. Este seria,
portanto, um indicador da chamada “leitura espontânea”.
Algo interessante também
foi o crescimento das novas mídias na mudança dos hábitos de leitura. A
internet e o áudio-livro estão entre aqueles que consomem mais tempo dos seus
leitores. Quanto maior a idade do leitor, maior a tendência de buscar lugares
silenciosos para leitura, ao passo que os mais jovens leem mais ouvindo música
e assistindo televisão. Quando trata-se do tempo médio dedicado à leitura de
livros, os leitores com formação superior de novo se destacam, com 2,4 horas
semanais.
Quanto ao acesso aos
livros, a pesquisa identificou que quanto maior a renda, maior a compra de
livros e menor o empréstimo e a leitura de livros distribuídos pelo setor
público, por meio de escolas e bibliotecas. A desigualdade socioeconômica
marcante no Brasil também manifesta-se neste campo, com 1% da população detendo
cerca de 19% dos livros. Quer dizer, um em cada cinco livros estão nas mãos de
um em cada cem cidadãos.
Aqui é possível observar a
importância das bibliotecas públicas. 73% da população não frequenta bibliotecas,
sendo que a maioria dos frequentadores são aqueles em idade escolar.
A pesquisa observou ainda
que o consumo de livros é 1,2 por cidadão na faixa etária correspondente,
novamente subindo nas camadas mais escolarizadas e de maior renda. Dentre aqueles
com menos tempo de educação formal, prevalece a leitura de livros religiosos.
Uma das conclusões mais
óbvias desta pesquisa é que educação e leitura andam juntas. Quanto mais
avançarem as políticas educacionais em todos os níveis, os reflexos na leitura
serão imediatos.
Para o grupo dos
não-estudantes outras ações podem ser desenvolvidas, como ampliação do número
de bibliotecas públicas e comunitárias, bem como sua conversão em “midiatecas”,
ou seja, em centros multimídia de acesso ao conhecimento. Temos que pensar também no barateamento dos
livros, que ainda chegam ao consumidor final com preços elevados em função de
uma estrutura de mercado concentrada, tanto na produção quanto na comercialização.
Desta forma, será possível
avançar neste importante campo da sociedade contemporânea.
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