segunda-feira, 2 de abril de 2012

Dificuldades políticas do Governo Dilma


Dificuldades políticas do Governo Dilma



Esta semana foi uma das mais movimentadas do Governo Dilma Rousseff na arena política. Episódios como a nomeação de Marcelo Crivella para o Ministério da Pesca, a derrota no Senado Federal na votação do diretor da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e a declaração do Partido da República de retirada da base de sustentação do Poder Executivo no Congresso Nacional expressaram bem a temperatura política do momento.

Considero que eles representam as dificuldades que o Governo atual está encontrando para operar o chamado “presidencialismo de coalizão” que vigora no Brasil. Um dos maiores segredos na operação deste sistema é a distribuição de recursos de poder, observando a proporcionalidade partidária e regional das forças que apoiam um determinado Governo.

No caso do Governo Dilma, um dos primeiros problemas foi herdado da gestão anterior. É a quantidade de partidos que apoiam a Presidente. Só na coligação que elegeu a candidata em 2010 estavam 10 partidos (PT, PMDB, PSB, PR, PDT, PRB, PTC, PC do B, PTN, PSC), somados àquelas que aderiram depois como PTB, PP, PHS e PT do B. Embora o chamado “índice de fidelidade” nas votações seja elevado, as tensões vão se acumulando e explodem num momento posterior.

Um segundo problema é a desproporção entre o peso da bancada do PT no Congresso Nacional e o número de ministérios ocupados pelo partido. O PT hoje é titular de 16 órgãos, entre ministérios e secretarias especiais contra apenas 5 do PMDB.

Vale lembrar que as bancadas federais dos dois partidos são quase equivalentes, com 88 deputados e 15 senadores para o PT e 79 deputados e 20 senadores para o PMDB. É possível identificar, portanto, um desequilíbrio gerador de tensão, mesmo considerando que também entram na disputa fundações, autarquias e empresas estatais, cargos de 2º e 3º escalão.

Um dos momentos que mais colocam em teste as coalizões montadas pelos Presidentes da República são as eleições municipais. Como estamos exatamente num momento de definição das candidaturas a prefeito em todo o país, muitos aliados tentam condicionar o apoio ao Governo a concessões em seus respectivos municípios. Este é mais um ingrediente de tensão, apimentado pela decisão do STF acerca da Lei da Ficha Limpa e pelas sequelas do “método Dilma para trocar de ministro” junto aos demais partidos, que já derrubou 6 desde o começo do mandato. 

Outro aspecto a ser considerado é o regional. O Presidente deve observar também o peso da bancada de cada Estado na montagem de seu ministério. Aqui temos o desencontro entre lulismo e petismo, que está cada vez mais acentuado. 

O PT obteve cerca de 42% da sua votação nacional nos três Estados da região sul (RS, SC e PR) e em São Paulo. Já Dilma obteve neste mesmo conjunto de Estados apenas 32% da sua votação no primeiro turno, com grandes distorções entre partido e candidatura presidencial. Como em política deve-se agregar quem não está a seu lado, Dilma tem priorizado representantes desta região na montagem de seu ministério.

Basta ver o caso dos ministros Gleisi Hoffman, Ideli Salvati, Pepe Vargas, Mendes Ribeiro e Brizola Neto, cogitado para assumir o Ministério do Trabalho e Emprego.

Soma-se a isto o afastamento de articuladores importantes, como os ex-ministros Fernando Haddad e Antônio Palocci, assim como o próprio Lula em virtude da doença que está combatendo.  

Portanto, para contornar a crise a presidente precisa compreender melhor o sistema e reforçar sua equipe no campo da articulação política.



Vinicius de Carvalho Araújo é gestor governamental do Estado, mestre em História Política, professor universitário escreve neste blog toda segunda-feira - vcaraujo@terra.com.br www.professorviniciusaraujo.blogspot.com




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